Se você tivesse que descrever a Ferrari 612 Scaglietti para alguém, ela se pareceria com o carro perfeito: motor V12 frontal/central, câmbio e diferencial na traseira para ótima distribuição de peso, carroceria em alumínio rígida e leve, quatro lugares, bom porta-malas, amortecedores ativos, máxima que pode chegar aos 325 km/h, design Pininfarina e o emblema Ferrari no capô. E que nome! “Que carro é esse”? Uma 612 Scaglietti!
Então por que a recepção tão fria no seu lançamento em 2003? Bem, não está exatamente entre as melhores criações do estúdio Pininfarina. A 612 tem estilo duvidoso e suas laterais em forma de concha são inspiradas na linda 375 MM de 1954, feita especialmente para a atriz Ingrid Bergman por Scaglietti, mas cuja beleza não se traduz para a atual. Ela certamente teria mais apelo se fosse baseada em outra linda criação, a 456M GT. No entanto, a 612 Scaglietti deu um enorme salto técnico. O motor V12 5.7 l Tipo 133F era o canto do cisne, antes do motor derivado da Enzo entrar na 599 GTB.
Com 533 cv (98 cv a mais que a 456M GT) e 60 kgfm de torque ele permite que a Scaglietti vá de 0 a 100 km/h em 4.2 s. Muitos compradores optaram pelo câmbio automático F1 A com opção para trocas nas borboletas. O 6 marchas manual era bem melhor. Seja qual for o câmbio, o espaço interno é muito bom para quatro adultos, a dirigibilidade e conforto eram excelentes graças aos amortecedores variáveis e a linda curva de potência que só um V12 pode proporcionar.
A 612 é um carro grande e não faz questão de esconder isso. O painel é simples, o volante tem o tamanho correto e traz nele controles de condução, estabilidade e dois botões que controlam a navegação na tela de cristal líquido à esquerda do motorista, junto do tradicional conta-giros central.
Vire a chave e o V12 dá um grito ao ligar, antes de acalmar-se em marcha lenta. O carro é ótimo de conduzir, graças a seu entre-eixos longo e pelo motor, que já mostra disposição mesmo em baixos regimes. Ele parece perfeito como aqueles carros que sonhamos para fazer longas viagens. E eu ainda tive o prazer de conduzir uma desde o Festival de Velocidade de Goodwood, até a fábrica em Maranello, junto de uma 575 Superamerica. Nossa rota incluiu muitas autoestradas, passando por serras sinuosas e interessantes pela França atravessando cordilheiras, até chegarmos a Maranello por estradas épicas.
A 612 foi maravilhosa: rápida, inacreditavelmente ágil, confortável e beberrona... nada é perfeito. Dirigi também a 575 em alguns trechos mas me senti melhor na Scaglietti por ter um conjunto mais harmo-nioso, ser mais bem resolvida. Quando chegávamos a Modena, aproveitamos um trecho propício, onde coloquei 297 km/h nela e deu para perceber que a 612 era tão boa quanto prometia. De repente, achei-a bem mais bonita. No lugar dela, entrou a Ferrari FF.
*Texto escrito por Jethro Bovigdon da CAR Magazine UK
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