O mercado de automóveis do Brasil pode até ser a “bola da vez”, na opinião dos investidores. Afinal, novas fábricas são anunciadas, novos modelos são lançados e recordes de vendas são batidos em uma sequência interminável. Mas, analisando com cuidado, constata-se que é sempre mais do mesmo. Invariavelmente, são modelos pequenos e médios nas configurações mais consagradas. A Peugeot é uma exceção. Ela se arriscou a trazer o 3008 – um crossover no sentido original, que mistura configurações de carroceria – e até hoje, quase um ano depois de lançado, tem uma fila de dois a três meses para entregar o modelo. Agora passa a vender o cupê-esportivo RCZ que, em um mercado de mesmices, se torna inusitado. Tanto que a montadora francesa não consegue apontar um rival no Brasil entre as marcas generalistas. Ela tem de voltar a mira para modelos de marcas premium. E aí aparece uma diferença fundamental: o preço. O RCZ custa “módicos” R$ 139.900. Algo como 30 a 40% menos que cupês como Audi TT, BMW Z4 e Mercedes-Benz SLK.
O grande poder de atração de um cupê esportivo é a estética. E nisso o RCZ mostra uma grande força. Principalmente nas laterais, dominadas pelos arcos em alumínio – prateados independentemente da cor do carro. São eles que desenham o habitáculo e, junto com os dois ressaltos sensuais do teto – que se espalham até o vidro traseiro – dão um especial charme ao modelo. A traseira tem paralamas bastante redondos e ressaltados e um lanterna triangular, bem característica da Peugeot. Uma bossa extra é o aerofólio, que se levanta automaticamente em duas alturas, a partir de 85 km/h, mas também pode ser acionado através de um botão no console. A frente acompanha razoavelmente a identidade da marca, com alguns exageros, como nos faróis e na proporção da grande, para dar agressividade ao carro.
Boa parte da tecnologia que a Peugeot pretende afirmar está exatamente na construção dessa carroceria. A plataforma base do cupê é a da linha 308 – inclusive, quando foi apresentado como conceito em 2007, foi chamado de 308 RCZ. Para ser aplicada ao modelo, ela passou a misturar elementos em aço de diversas espessuras com partes em alumínio. As bitolas dianteira e traseira foram aumentadas – em 4,4 e 6,3 cm – e teve suspensão e freios redimensionados.
O desenho e a arquitetura do RCZ insinuam esportividade. De fato, o modelo tem uma motorização bastante interessante. Sob o capô está o propulsor da família Prince, um 1.6 16V THP – “turbo high pressure” ou turbo de alta pressão – que é gerenciado por um câmbio automático de seis marchas com modo manual sequencial e entrega 165 cv a 6 mil giros e 24,5 kgfm de torque já aos 1.400 rpm. Este motor é o mesmo que equipa o 3008 com 156 cv. Os 9 cv a mais sãooriginados do novo mapeamento preparado pela engenharia da Peugeot, além de novos pistões e um novo catalisador. O RCZ “brasileiro” – preparado para andar com gasolina misturada com 20 a 25% de etanol – é o primeiro modelo da marca no mundo a usufruir dessa evolução. A partir da linha 2012, ela passará a ser aplicada a todos os carros que usarem o propulsor – inclusive a futura versão top do sedã 408, que chega no primeiro trimestre do ano que vem.
Por dentro, o carro da Peugeot é bem completo. Ar-condicionado dual zone, airbags frontais e laterais, ESP com ABS e controle de tração, revestimento em couro no banco, console e painel frontal, faróis de xênon, trio elétrico e direção eletro-hidráulica, computador de bordo e som com conexão por Bluetooth e por USB. Ou seja: o RCZ tem tudo que se espera de um carro de R$ 139.900. Pela primeira reação nas revendas, as projeções iniciais da Peugeot já se mostraram tímidas demais. A marca imaginava que venderia de 25 a 30 unidades por mês e que o lote inicial de 200 carros duraria, pelo menos, até o final do verão. Agora já se estima que o estoque não vá durar nem até o “reveillon”.
Primeiras impressões
Valor interior
Indaiatuba/São Paulo – A Peugeot pesou bem e decidiu trazer a versão de menor potência do RCZ – além dessa, há outra, também da família Prince, com 200 cv e câmbio mecânico de seis marchas. Mais que um bólido, a Peugeot queria trazer um carro de imagem, que desse status a quem dirige, com uma pitada de adrenalina. E é isso que o cupê francês entrega. Tem boas acelerações e é muito bem assentado no asfalto. O zero a 100 km/h, segundo a Peugeot, é feito em 8,4 segundos e a máxima fica em 213 km/h. Não é nada que impressione muito, mas já torna o RCZ bem divertido – aliás, o cupê da Peugeot se mostra mais interessante em curvas que em retas. O rolamento lateral, mesmo em trechos bem sinuosos, é bastante sutil. O baixo centro de gravidade e a boa distribuição de peso entre os eixos deixam o modelo bem neutro.
Já nas retas, quando o motor tem de falar, o cupê não consegue entregar tudo que seu desenho promete. O câmbio de seis marchas tem delays um pouco longos demais nas passagens manuais. Nada que não fosse contornado com a intimidade adquirida após umas poucas voltas no pequeno e travado circuito da Fazenda Capuava. Bastou antecipar um pouco o movimento na alavanca. Um ponto a favor são as várias regulagens dos bancos elétricos e do volante, que se ajustam em todos os sentidos. Também são boas a leitura dos instrumentos, a ergonomia dos comandos e, principalmente, o desenho do banco. Eles seguram o corpo com firmeza, mesmo nas curvas mais fechadas.
O RCZ é um autêntico 2+2. O espaço interno é contado. Atrás, até parece que os cintos de seguranças estão ali para efeitar, tão exígua é a área reservada aos “+2”. Mesmo crianças pequenas ficam apertadas. Para os primeiros “2”, que vão nos bancos dianteiros, a situação é um pouco melhor. Mas também é ali que as duas protuberâncias no teto se explicam: elas criam um espaço precioso para impedir que os ocupantes batam, literalmente, com a cabeça no teto. Já o acabamento, por outro lado, é muito bem feito. O interior é majoritariamente revestido em couro pespontado: banco, volante, painel, console frontal e painéis de porta. Vários detalhes e aplique em metais e em plástico de aspecto agradável. Um ambiente de requinte e conforto ameniza bastante qualquer sensação de aperto.
Ficha Técnica
Peugeot RCZ 1.6 16V THP
Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, alimentado por turbina de hélice dupla, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote com sistema de variação de abertura na admissão e escape. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático com modo manual sequencial de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência máxima: 165 cv a 6 mil rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 8,4 segundos.
Velocidade máxima: 213 km/h.
Torque máximo: 24,5 kgfm a 1.400 rpm.
Diâmetro e curso: 77,0 mm x 85,8 mm. Taxa de compressão: 11,0:1.
Suspensão: Dianteira McPherson com rodas independentes, barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos pressurizados. Traseira com rodas independentes, travessa deformável e amortecedores hidráulicos pressurizados. Oferece controle de estabilidade.
Pneus: 235/45 R18.
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS.
Carroceria: Cupê em monobloco com duas portas e quatro lugares. Com 4,28 metros de comprimento, 1,84 m de largura, 1,35 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais.
Peso: 1.363 kg.
Capacidade do porta-malas: 321 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: Sochaux, França.
Lançamento: 2010.
Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Airbags frontais e laterais, aerofólio móvel, controle de estabilidade, faróis de xenon, ABS com auxílio a frenagem de emergência e repartidor eletrônico de frenagem, sensor de luminosidade, ar-condicionado dual zone, bancos de couro com aquecimento, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, direção assistida, cruise control, trio elétrico, retrovisores eletricamente rebatíveis, rádio/CD/MP3/USB/AUX/Bluetooth e rodas de liga leve de 18 polegadas.
Preço: R$ 139.900.
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